22 março 2009

SENTIR PARANHOS / PORTO SENTIDO -001

«Se há no Porto um espaço público a que o adjectivo aprazível assenta na perfeição, é o Jardim da Arca d'Água. Pelos plátanos orgulhosos e antigos que o povoam e que, nos longos dias da canícula, oferecem aos ociosos e aos namorados que a procuram a sua sombra protectora. Há outras árvores. E há flores, muitas flores, de que distingo as camélias. Vermelhas, umas; outras brancas e rosadas. E há, lá ao fundo, o coreto, à espera que alguma filarmónica o acorde da sua habitual sonolência e ofereça aos habitantes das redondezas e aos pássaros que se acoitam nas árvores a sua música vibrante. E há ainda o lago, onde alguns patos passeiam, à luz do dia, a sua preguiça e a sua solidão aquática.
Por cima da gruta que leva aos corredores subterrâneos da cidade e onde o mistério se esconde, no patamar ali existente, alguns idosos jogam às cartas e entretêm o cansaço dos dias iguais.
No chão, que o Outono cobriu de folhas mortas e o vento arrastou na sua fúria desenfreada, ecoam de vez em quando os passos apressados dos alunos da Universidade Fernando Pessoa, ali instalada, enriquecendo, com o seu valor patrimonial e cultural, esta zona da cidade.
Aqui deixo o convite aos que não conhecem este espaço para que o visitem, o frequentem, o usufruam. Não há no Porto muitos que se lhe possam comparar. Só o jardim do Palácio de Cristal (mas onde está ele, o palácio?). E, lá ao fundo, junto ao mar da Foz, o parque da cidade. Mas neste as árvores têm a nossa altura, a nossa idade e a nossa dimensão. As da Arca d'Água ostentam o selo da perenidade e da grandeza.»

(Albano Martins - Poeta, Ensaísta, Escritor e Prof.Univ., JV Jan.2009)

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